Capítulo 9
Três fazendas muitas histórias

Três fazendas, muitas histórias Não tem como contar a história de Novo Lino sem citar as fazendas Belo Horizonte e Itajubá. Afinal, muitos dos novo-linenses, que hoje vivem na área urbana do município, cresceram nessas propriedades, onde criaram laços afetivos sem tamanho, imensuráveis. Cada uma com suas características, mas com um ponto em comum: pertencem ao território do município com orgulho. O terreno da Fazenda Belo Horizonte fazia parte da Usina Santa Tereza, de propriedade do coronel José Pessoa de Queiroz. As primeiras casas, conhecidas como arruado, foram construídas no local justamente em 1955, antes mesmo da emancipação política de Novo Lino. Vale a pena destacar que só havia até então casas de palha. Quem morava por lá eram os trabalhadores da fazenda. Havia 100 funcionários fichados, com as suas respectivas famílias. Nos anos de 1960, a propriedade passou a ser de responsabilidade do rendeiro Pedro Luiz, que repassou mais adiante para o sobrinho João Duarte. Nas terras se plantava cana-de-açúcar, e toda a produção era enviada para as usinas Santa Tereza, Porto Alegre e outras da região. Por outro lado, nos anos de 1990, o ex-governador de Alagoas Geraldo Bulhões arrendou a fazenda e resolveu substituir a produção de cana-de-açúcar por criação de gado. Por isso, alegando que a terra havia ficado improdutiva, em novembro de 1999, os trabalhadores do Movimento dos Sem-Terra ocuparam a fazenda reivindicando a distribuição dessas terras. Eram ao todo 2.640 hectares da usina, mas 1.800 hectares de terra improdutiva. Os sem-terra ficaram debaixo da lona até 2008, quando construíram as casas. O Incra fez a reforma agrária em 2013. Cada sem-terra e cada um dos 33 moradores tiveram direito a 5 hectares de terra. A partir daí foram construídas casas agregadas. Hoje são cinco agrovilas: Sede; Vitória, Novo Horizonte (conhecida como Cuba), Alegre e Bina. Vai ter uma pista e haverá calçamento nas agrovilas. Até a pista principal são 4km e mais 4km até a cidade. São 8 km da Belo Horizonte até o centro de Novo Lino. Na agrovila Sede, há mais de 60 famílias com 43 casas e uma escola municipal, a José Pessoa de Queiroz. “Há 72 famílias aqui do lado e 73 lá embaixo. Na Alegre são 26. Tem mais de 1 mil habitantes na fazenda toda, só de eleitores são 800. A reforma agrária não entrou em outras partes da propriedade porque os outros rendeiros sempre deixaram as terras produtivas”, explica o agricultor Severino Amaro Pereira, 43 anos, nascido e criado na Belo Horizonte. Um fato interessante é que, com o tempo, a Belo Horizonte também passou a ser chamada de Onça. Isso porque os moradores antigos falavam que havia muitos desses felinos na mata. Enquanto isso, há cerca de 40 anos, existiam 150 casas e cerca de 300 pessoas morando na Fazenda Itajubá, que fazia parte da Destilaria Porto Rico e que depois mudou o nome para Porto Alegre. Na época, havia palhoções, festas, escola e até posto de saúde. Mas em 2018, a usina fechou as portas, fazendo com que muitos trabalhadores deixassem o local. Hoje, há apenas 15 casas com trabalhadores da agricultura, já que os da cana foram todos desligados com direito à indenização. Fazenda Amapá Outra fazenda que também é bastante lembrada pelos moradores de Novo Lino é a Amapá. A propriedade sempre pertenceu à família Gomes de Barros desde quando o município ainda nem era distrito de Colônia Leopoldina. Com um cenário bucólico por conta da vegetação em abundância e um casarão preservado bem ao estilo colonial, a propriedade foi adquirida pelo patriarca da família há mais de 120 anos. Naquela época, Laurentino e a esposa, Amália Gomes de Barros, chegaram, trabalharam duro, aumentaram a propriedade e tiveram 12 filhos, sendo dez homens e duas mulheres. Quando cresceram, os filhos do casal foram estudar fora e, ao retornarem, fundaram a Usina Santa Amália, na região de Joaquim Gomes. O empreendimento funcionou durante anos, até que foi vendido e, atualmente, por estar inoperante, foi feita a distribuição da terra pelo Incra entre trabalhadores do Movimento dos Sem-Terra. Como Laurentino tinha muitas terras, acabou fazendo a distribuição entre os filhos para que as propriedades fossem atravessando as futuras gerações da família. Então, a área onde fica até hoje o casarão da Fazenda Amapá acabou ficando com Paulo Gomes de Barros, que foi um dos fundadores de Novo Lino e o primeiro prefeito da cidade eleito pelo voto popular. Depois, a fazenda ficou sob os cuidados de Oswaldo Gomes de Barros, filho de Paulo e também ex-prefeito de Novo Lino. Na época de Paulo e Oswaldo, a Amapá tinha como principal atividade econômica a produção de cana-de-açúcar. Naquela época, nos períodos da moagem da cana, havia cerca de 200 moradores na localidade. A fartura era tanta que se chegou a produzir 15 mil toneladas de cana no engenho. Com o passar do tempo, Oswaldo transferiu a Fazenda Amapá para o filho Oswaldo Gomes de Barros Filho, que está à frente do casarão até hoje. “As raízes são tão fortes aqui que eu procuro preservar a propriedade para que ela continue atravessando as gerações da nossa família”, frisa. Com duas filhas e seis netos, Oswaldo quer manter a escrita dos Gomes de Barros. Ou seja, continuar preservando essa fazenda que já atravessou quatro gerações de uma mesma família e tem tudo para continuar firme e forte rumo ao futuro. Alguém duvida disso?
